Existe uma tradição política que aponta para o desenvolvimento ético do trato com a coisa pública aliado ao respeito pelo indivíduo, por sua liberdade e demais direitos. Eu a chamo tradição democrática liberal. Há linhas que tangenciam essa e outras que a rompem por serem sua inversão e negação. À esquerda e à direita houve movimentos e ideologias políticas que desfiguraram essa trajetória pela qual evoluímos ética e institucionalmente.
Os governos brasileiros anteriores, os da era petista, afundaram-se em práticas de corrupção e – no que pese a retórica do bem estar social – somente atrasaram o desenvolvimento da sociedade, ludibriada pelo populismo demagógico dos que diziam estar ao lado do povo quando, na verdade, estavam ao lado das grandes fortunas, sustentados no poder pelo povo seduzido e crédulo.
Houve uma ruptura e essa ruptura foi construída por uma aliança entre alguns setores indignados com as práticas de corrupção da esquerda e outros setores empresariais indignados por terem sido preteridos no jogo de interesses que perfaz o nefasto mas pacificamente aceito “capitalismo de compadrio”, “capitalismo monopolista de Estado”, “capitalismo político” ou “capitalismo de laços”.
Sob o pretexto de defenderem pautas liberais ou conservadoras, grandes empresários entraram no jogo político e ocuparam o lugar que queriam: o do alinhamento com o Estado, assegurando privilégios e benefícios que prejudicam a livre concorrência e mantêm a injustiça social reinante no nosso país.
Esse empresariado, cooptado ideologicamente, retroalimenta o bolsonarismo, fortalecendo a estrutura de poder que se concentra hoje nas mãos ou de gente fanática ou avessa às discussões políticas sérias, visto preocuparem-se tão somente com os seus bolsos e negócios.
O envolvimento de grandes empresários com grandes políticos existia no governo anterior e existe no governo atual. O nome disso não é socialismo nem liberalismo e deveria ser combatido à esquerda e à direita. Não precisamos de mitos, precisamos de honestidade. Nada de bom surge da idolatria política.